quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ensaio sobre a decepção...

Qual o verdadeiro sentido da decepção? É algo interpessoal ou um momento individual? Me questiono rotineiramente sobre o termo, que em alguns acontecimentos é plausível e em outros inadequado.  

O dicionário sugere desapontamento, desilusão, desengano, surpresa desagradável. Condição que sugere uma atitude alheia, podendo ser de você mesmo. Parece um equívoco de minha parte dizer que é 'uma atitude alheia, podendo ser de você mesmo', no entanto quem nunca fez algo que pudesse ser encarado com arrependimento, insatisfação, surpresa por si próprio? 

Então, se um indivíduo consegue se auto-decepcionar o que dizer sobre terceiros? Estamos sob influência dessa palavra, desse sentimento em nosso cotidiano. Cada ato, atitude, ação, palavra ou gesto pode desencadear essa idiossincrasia: um futebolista que se diz tocedor do time rival, um ator que é surpreendido usando drogas, um político de boa imagem flagrado roubando, um namorado que traí, os pais que se divorciam ou um amigo que se utiliza de artíficios obscuros para sair por cima em uma discussão...

Mas aí que devemos nos questionar: A decepção é intangível ou é resultado da constução de imagem? 


Sentimos esse desapontamento por um acontecimento consolidado ou pela expectativa criada em cima de algo? Até que ponto a desilusão é provocada? Ou é fruto da empatia do ser individualista? Não julgo por esse aspecto o ser humano como egoísta - e sim por outros. Apenas relevo que toda a decepção é influência da forma como queríamos que tal acontecimento de fato ocorresse.

Ouvi ou li em algum lugar que a expectativa é proporcional a decepção, e talvez essa frase ilustre o que eu quero dizer realmente. Tudo aquilo que você não espera de alguém ou de si mesmo é por quê você fantasiou que rigorosamente o contrário deveria ser feito. Logo, a decepção é por si próprio por se decepcionar, já que você criou uma fantasia sobre alguém.

O que muitos se perguntam é sobre a imagem. E quando alguém passa uma imagem diferente do que é e provoca a decepção? Bom, se questiona o caráter dela ou qualquer outra coisa, mas ainda assim não configura desgosto, pois ela subverteu a realidade. E ainda assim você acreditou e gerou expectativas acerca dela. 



Devemos observar mais as expectativas depositadas, muitas vezes inconsequentes e sempre irresponsáveis. Todo o juízo é comumente narcisista e reflete a intenção própria sobre a personalidade alheia.

Começo a crer que a decepção sequer existe. É tudo reflexo da fantasia que criamos. Como se vendessemos uma idéia para nós mesmos. Talvez aquilo que fazem e que nos surpreende negativamente seja uma parte do caráter ainda não descoberto, mas nem sempre omitido. Todo o nosso julgamento pode ser fruto da nossa moral. E nem sempre somos os mais justos na hora da sentença.

3 comentários:

  1. Gostei da linha de pensamento. Realmente, nos decepcionamos, basicamente, quando a gente espera de algo/alguém e não atinge as expectativas.

    É tipo o cara coerente e bem realista que acaba com seu otimismo. Quase sempre o cara não está errado, mas você prefere que realmente tudo tivesse ocorrido como o planejado (tipo um sol alegre quando marcam um churrasco, ou trânsito livre quando você vai à praia).

    Talvez por isso os pessimistas não se decepcionam, se surpreendem.

    ResponderExcluir
  2. Juliana R. Rebelo28/8/10 12:42

    Exatamente Marcelinho. A expectativa é proporcional à decepção.

    E a quem cabe a expectativa? A nós. Nós que fantasiamos a respeito de algo ou alguém.

    Seriam então, os desapontadores vítimas, das nossas expectativas? Sim! Principalmente se tratando de um 'desapontador amigo'. Pessoa na qual você julga conhecer, e acredita então, que qualquer expectativa acerca deste, jamais será quebrada. Confiança demais talvez? Talvez! Mas ainda assim, tudo leva a crer que somos nós mesmos os culpados pela 'dor'(?) que posteriormente viremos a sentir.

    Acho que cabem duas coisas a seguir:

    Ponderar a expectativa. Não apostar todas as fichas. O que na minha opinião, apesar de plausível, é triste. Afinal acabamos sendo irrelevante com amizades, pessoas e ocasiões que poderiam ser especialíssimas.

    Outra opção: Investir em conhecer nossos amigos. Mas conhecer de verdade. Saber do que ele gosta, ou não. Onde ele iria, ou não. Se ele faria tal coisa, ou não. É possível sim, conhecer uma pessoa, a ponto de contar seus segredos mais íntimos, e ter a certeza de que ele estará sempre bem guardado. Dessa forma, talvez não haja expectativa frustrada.

    Mas... pensando bem... essa segunda opção é romântica demais...

    O ideal, talvez seja, arcar com a responsabilidade da confiança, em qualquer circunstância. Saber que, hoje você conta seu maior segredo à alguém em quem você confia muito. Amanhã pode não ser mais segredo. A escolha foi sua em confiar seu segredo à alguém. Talvez esse alguém não lhe tenha dito: 'Confie em mim seu maior segredo pois ele estará guardado a sete chaves'. Você confiou por que quis.

    Droga! Estou entrando em parafusos com as minhas próprias idéias!

    Você só confiou na pessoa, por que ela te deu razão para tal. Como então, ela te desaponta, e joga fora tudo isso?!?! COMO?

    Cadê os amigos de verdade?
    Eu quero poder acreditar que hoje (27/08) vou tomar uma cerveja com boas amigas, e dar boas risadas, sem imaginar que posso chegar ao local combinado e elas não estarem lá... é o mínimo que se espera de alguém. Que cumpra com sua palavra. Que seja verdadeiro com seus sentimentos. Ahhhh!!! Perdi a linha de reciocínio lógico e entrei na questão emocional... perdoem-me.

    Apesar de já ter passado por isso, ainda acredito que podemos ter grandes e eternos amigos, que jamais nos magoarão. (?)

    *Prolixa demais?*

    ResponderExcluir
  3. Acho que a decepção vem com um medo, ou talvez ela seja esse próprio medo, de que as expectativas nunca se consolidem. Ao contrário da ju e contrariando também o que eu mesma faço por aí, acredito que o melhor é, sim, apostar todas as fichas. E, pessoas que me conhecem, acreditem: estou tentando isso! Talvez não seja seguro e cause mais desconfortos que alegrias, mas acho que é um modo de ser mais "livre".

    Nada é totalmente individual. Nossas expectativas são a prova de que até nossos desejos envolvem a ação de alguém.

    Posso estar mega filosofando, mas faz tempo que não entro numa conversa "viagem" dessas com vocês. Enfim, decepção me faz pensar em fracasso. "Me decepcionei, porque não consegui que minhas expectativas se tornassem reais", mais ou menos isso.

    Quanto a confiar, ju, acho que um dos momentos mais felizes é quando alguém divide algo com você. Um segredo, coisas felizes ou não, problemas ou soluções. E um dos momentos mais frustrantes pode ser descobrir que confiou na pessoa errada ou que alguém não está disposto a te a dar aquele segredo, a dividir. Vai abaixar a cabeça, bater de frente, aceitar, gritar, se distanciar ou querer se aproximar mais? TUDO isso passa pela cabeça, mas preciso dizer qual é a opção que fica? Independente do que está nas nossas rodas de discussão, penso que todos nós ainda somos as pessoas certas.=]

    ResponderExcluir